Procrastinação: "Por que fazer hoje se posso deixar para amanhã?"

A sensação de mal-estar provocada pela percepção de que fracassamos em executar uma tarefa necessária é muito ruim. E, no entanto, constitui-se numa das situações mais banais vividas pela vida afora. Reclamamos por deixar isso acontecer e o fazemos de novo, de novo… e de novo! Colecionamos fracassos, situações pendentes, inacabadas, que produzem uma pressão insuportável dentro de nossas cabeças, que provavelmente nos levará enfim à ação.






Por que procrastinamos, adiamos, deixamos para depois e então saímos correndo feito loucos para agir? Uma em cada cinco pessoas procrastina de modo crônico, ameaçando suas carreiras, seus estudos, perdendo o sossego, enquanto repetem para si mesmas que naquele momento deveriam estar fazendo outra coisa. Procrastinação não se trata somente de gerenciar o tempo ou a preguiça. É também sobre um estado psicológico de paralisia e culpa, enquanto a cabeça viaja, sabendo que deveríamos estar lendo um livro, estudando para uma prova, organizando nossas despesas. Por que essa distância entre perceber e agir?






Através de estudos de especialistas em comportamento, podemos deduzir que se trata de uma combinação de ansiedade, falsas crenças sobre a própria capacidade produtiva e características pessoais. O psicólogo canadense Tim Pychyl, PhD, professor da universidade de Carleton em Ottawa, conduz um trabalho com estudantes que assumem ter problemas de procrastinação sempre que têm data certa para entregar um projeto. Relatam sentir ansiedade e culpa por não começar o trabalho. Depois, vem a desculpa de que trabalham melhor sob pressão e chegam ainda a subestimar a importância do compromisso. Mas, quando superam a famosa inércia e se põem a trabalhar, passam a perceber emoções positivas de entusiasmo, ânimo, pique e, ainda, alívio da pressão interna.


Psicólogos focalizam as pesquisas em estudantes porque é no meio acadêmico que encontramos o maior índice de queixas sobre o assunto. Setenta por cento dos estudantes universitários reportam ter problemas de atraso nos estudos e na entrega dos trabalhos. É comum deixarem para fazer a prova “sub” (substitutiva) porque não acharam tempo para se preparar na data certa, mesmo esta tendo sido marcada com antecedência. Pychyl mostra ainda que a procrastinação traz prejuízos à saúde. Estudantes que adiam suas obrigações são os que apresentam maior índice de consumo de bebida, cigarro, insônia, problemas estomacais, resfriados e gripes.






Muitas pessoas se convencem de que trabalham melhor sob pressão, sentindo-se mais produtivas quando atacam o trabalho na última hora. São falsas crenças, pois a execução apressada é de baixa qualidade e a pressão de forma alguma melhora a performance, ao contrário.


Ao tentar compreender melhor a procrastinação, percebemos que a Procrastinação: “Por que fazer hoje se posso deixar para amanhã?” razão principal do adiamento das obrigações é o medo. A insegurança quanto ao próprio talento e habilidade traz o medo de as pessoas transparecerem que são pouco capazes. Preferem explicar os resultados medíocres como sendo devido a pouco esforço, dedicação, tempo, e não por falta de capacidade.


Outras razões são que os procrastinadores tendem a ser perfeccionistas, o que nos torna inseguros perante os outros.


Quem age por si mesmo, dando o melhor que pode, não adia o que é importante. Mas aqueles que se preocupam muito com a própria imagem buscando aprovação e admiração nunca ficam satisfeitos com seu trabalho, tendendo a recomeçar tudo de novo, perdendo o tempo e a motivação. Pessoas desorganizadas, que têm pouco autocontrole, também tendem à procrastinação porque não sabem priorizar. Começam um trabalho e logo o interrompem para falar ao telefone, depois vão dar uma voltinha para comer algum petisco, olhar o tempo e... lá se foram a concentração e o trabalho. Evidenciam grande dificuldade em fixar-se na atividade, deixando-se levar pelas inúmeras distrações que circulam em volta.






Pais autoritários e excessivamente punitivos produzem crianças que adiam suas ações. Isso acontece porque essas crianças são tão criticadas ou necessitam tanto do suporte dos pais que acabam tornando-se passivas. Ou, ao contrário, podem se recusar a estudar ou agir como um mecanismo de autodefesa e uma reação raivosa aos desejos deles. No entanto, o oposto também ocorre. Pais permissivos ou escolas que não estimulam a disciplina provocam um verdadeiro desastre na formação de um indivíduo. A falta de limites e de regras estimula a criança a desenvolver uma personalidade narcísica cuja principal característica é a de imaginar que o mundo gira ao seu redor e que tudo acontecerá segundo seus desejos. Perigoso, não? Podemos incluir no grupo de procrastinadores muitos daqueles que gostam de viver perigosamente. Nada como a adrenalina provocada pela pressa de resolver ou entregar um trabalho no último minuto do prazo. Nós, brasileiros, deixamos para entregar a declaração de imposto de renda momentos antes da data final estipulada, que muitas vezes já foi adiada. Aliás, basta haver um prazo de encerramento para qualquer tipo de evento e lá estará uma fila de pessoas que deixaram para o último momento, curtindo a expectativa.


Finalmente, a depressão também leva ao adiamento da ação e vice-versa. Muitos sintomas da doença tornam as pessoas desanimadas, sem vontade de fazer nada e, porque estão passivas, se deprimem ainda mais. Não percebem nem sentem a possibilidade do prazer, o que torna as opções confusas, sem valor, promovendo a dificuldade para decidir e agir.


Concluindo, penso que quando nos paralisamos com nossas vozes internas que sussurram “eu deveria, mas não tenho vontade, não quero”, precisamos nos conscientizar de que temos escolhas a fazer. Quando nos damos opções, evitamos o conflito entre o dever e o querer. Podemos escolher não arrumar a bagunça, não estudar e, em vez disso, ir ao cinema ou ficar na balada até as seis da manhã. O importante é aceitar as conseqüências de nossas escolhas e viver com elas. Se um jovem opta por não priorizar a faculdade, terá que assumir que provavelmente terá sua carreira profissional comprometida ou no mínimo atrasada. No entanto, será capaz de se divertir sem o peso da culpa.





Maria Clara S. Heise - Psicóloga clínica – Psicoterapeuta Tel. 38870933 – 31682677
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